Trocou a Engenharia pela Agricultura e hoje fornece quase 30 restaurantes

Em 2023, Tiago Fonteboa fundou o projeto "Formiga Gloriosa", uma exploração agrícola de pequena dimensão onde cultiva hortícolas de forma sustentável para distribuir por restaurantes do Porto.
João Lacerda
Sofia Dias
Sofia Dias Jornalista
02 dez. 2025, 06:00

Num hectare de terreno na freguesia do Muro, na Trofa, o cheiro a terra molhada mistura-se com o perfume fresco das ervas aromáticas. Entre canteiros de cores vivas, o verde intenso das alfaces e o amarelo vivo das calêndulas, Tiago Fonteboa move-se com a serenidade de quem encontrou o seu lugar, depois de ter decidido trocar o curso de Engenharia Mecânica pela Agricultura.

“Estava a estudar Engenharia Mecânica e não estava contente com a minha vida. Estava à procura de algo com mais propósito e comecei a explorar uma horta em casa dos meus pais. Era muito pequenina. Comecei a ter comida a mais e dava aos vizinhos. Ao experimentar, comprar sementes, plantar e ver o resultado, foi surgindo uma paixão que se tornou quase um vício”, recorda, em entrevista ao Conta Lá.

A decisão de mudar de área não foi fácil. “Houve algum julgamento por parte da família”, confessa. Ainda assim, Tiago seguiu o instinto e inscreveu-se na Escola Agrária de Ponte de Lima. No início, temia que os hortícolas não fossem suficientes para viver da terra. Chegou a ponderar o mundo dos vinhos, mas rapidamente percebeu que “para fazer vinho é preciso ter uma paixão muito grande por essa área”. E a sua paixão já tinha raízes profundas na horticultura.

Inspirado por um modelo canadiano, o Market Garden (uma pequena exploração agrícola focada no cultivo de frutas e vegetais para venda direta aos consumidores ou a mercados locais), estudou o conceito e partiu em busca de experiência: primeiro em Itália, depois na Nova Zelândia. Entre quintas, aprendizagens, técnicas e práticas, foi aperfeiçoando uma visão sustentável da agricultura que viria a aplicar no projeto a que chamou "Formiga Gloriosa". “A história do nome não é muito interessante”, admite, entre risos. “Quando criámos a empresa nas Finanças, foi essa a sugestão de nome e assim ficou batizada”.

Atualmente, dois anos depois da fundação da "Formiga Gloriosa", Tiago cultiva, com a ajuda do seu amigo Tom, muito mais do que legumes. Nos seus terrenos crescem saladas coloridas: alface, mostarda, mizuna, microgreens de rabanete, ervilha e girassol, flores comestíveis como calêndulas, tagetes e borragens, e ervas aromáticas como coentros, salsa, endro, cerefólio e manjericão, que perfumam o ar.



“Diziam-me: isso é muito difícil. Vais ter de trabalhar à chuva e ao sol, vais ter de vender, de lutar. Isso não vai resultar. Mas quando fazemos algo com gosto, tudo acaba por correr bem”, sublinha.

Neste momento, a "Formiga Gloriosa" fornece 27 restaurantes no Porto. “Nós sabemos que um projeto destes demora entre três a cinco anos a ter sucesso financeiro”, reconhece. No entanto, Tiago revela que a faturação tem vindo a aumentar e o balanço não podia ser mais positivo.

“É incrível a quantidade de comida que nós produzimos sem um único tratamento químico. Usamos o nosso próprio composto alimentar e conseguimos ver a saúde das plantas.”

Na "Formiga Gloriosa", a sustentabilidade é a palavra de ordem. Além de ter uma produção totalmente livre de produtos químicos, a distribuição dos alimentos é feita de bicicleta: “Contratámos a Ciclo Logística do Porto, que é uma pequena empresa que faz entregas em bicicletas elétricas cá na cidade”.

Dois anos depois, esta iniciativa revela-se um exemplo de como a aposta na agricultura local, diversificada e ecológica, pode abrir caminho para novos modelos de negócio no setor agrícola.