Joana Vacas Freixa é a "Melhor Jovem Agricultora da Europa"

A agricultora salaciense Joana Vacas Freixa foi distinguida como “Melhor Jovem Agricultora da Europa”, na categoria “Desenvolvimento das Zonas Rurais”, o que leva Portugal ao topo num setor onde os jovens ainda representam uma minoria.
 
Regina Nunes
Regina Nunes Jornalista
21 nov. 2025, 12:42

Fotografia de frente de Joana Vacas Freixa na sua exploração com fardos de palha atrás de si
Fotografia: Joana Vacas Freixa é eleita "Melhor Jovem Agricultora da Europa"

Joana Vacas Freixa tem 39 anos e representa a quarta geração de uma família dedicada à agricultura. É a "Melhor Jovem Agricultora da Europa", na categoria “Desenvolvimento das Zonas Rurais”. A distinção, atribuída no dia 19 de novembro, em Bruxelas, no âmbito da 11.ª edição do Congresso Europeu de Jovens Agricultores no Parlamento Europeu, foi recebida com surpresa.

“Estamos a falar de um congresso internacional de jovens agricultores no Parlamento Europeu. Não esperava ganhar. É sempre bom quando o trabalho que fazemos dá frutos e, sobretudo, quando podemos trazê-los para Portugal”, afirma Joana Vacas Freixa ao Conta Lá.

Há um ano e meio que concilia a carreira de consultora estratégica na área financeira com o trabalho na exploração agrícola com a família. 

Para a agricultora, este prémio pode ser visto como um incentivo para outros jovens da área: “Espero que sirva de motivação para continuarmos a apostar no setor e para que mais jovens entrem sem medo porque sabemos que não é um setor onde seja fácil começar”, confessa.

O projeto que mereceu o prémio europeu destaca-se pela reativação de uma exploração de ovinos e pela valorização da raça autóctone Merino Preto, cuja promoção contribui para a preservação da biodiversidade e para o desenvolvimento económico e social das zonas rurais. Joana Freixa sublinha que esta exploração assenta “num projeto simples, mas sustentável”, sobretudo numa região marcada pela seca e pela desertificação dos solos como o Alentejo.

“Acredito que o júri valorizou, sobretudo, a reintrodução de uma raça autóctone, a captação de água de forma sustentável com recurso a energia solar e a criação de um ecossistema equilibrado entre o gado e a pastagem”, explica. 



Para a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que promoveu o congresso em parceria com o Grupo do Partido Popular Europeu e a ASAJA de Espanha, esta conquista tem um significado especial num país onde apenas 5% dos agricultores têm menos de 40 anos, números muito afastados dos 18% registados em França ou dos mais de 40% na Áustria. De acordo com Luís Mira, secretário-geral da CAP, o prémio “significa que há um caminho que é possível percorrer em Portugal e que é exequível ter projetos agrícolas inovadores e valorizados. (…) O facto de o trabalho da Joana ser reconhecido a nível europeu é um sinal importante para todos os jovens e para os políticos que precisam de apostar mais neste setor”.

Luís Mira não esconde que para quem quer iniciar um projeto agrícola, o setor ainda é marcado por grandes desafios: “A primeira grande dificuldade é o acesso à terra, não é ser jovem agricultor. É jovem agricultor quem tem acesso à terra e isso, hoje, só acontece a quem tem família com terrenos disponíveis ou consegue arrendar, o que não é fácil. As terras boas estão ocupadas e comprar é quase impossível para a maioria”.

A este facto acresce a dificuldade em garantir uma economia sustentável, o elevado investimento inicial e a necessidade crescente de competências tecnológicas e científicas. “Não se faz um projeto agrícola sem verbas. Os investimentos são elevados e é preciso dominar tecnologia avançada e conhecimento científico. É esse o caminho de quem quer fazer vida na agricultura”, acrescenta o secretário-geral da CAP. 

Joana Freixa reitera algumas destas dificuldades: “A rentabilidade é baixa face ao esforço que é exigido. E, para quem não herda terras, é praticamente impossível começar”. A agricultora considera ser essencial rever o acesso ao financiamento para os mais jovens e identifica uma barreira cultural: “Muitas famílias desencorajam os filhos a seguir a agricultura. Há uma mentalidade muito portuguesa de dizer ‘vai para a cidade, isto não dá’. É preciso mudar esse mindset”.

Para Luís Mira, distinções como esta são importantes para atrair as novas gerações, mas não resolvem todas as lacunas. “Estes sinais motivam os jovens, claro. Mas ninguém vai viver, por exemplo, para o interior se não houver hospitais, escolas, bancos, serviços. Não basta a agricultura, é preciso desenvolvimento rural. Sem condições básicas, um casal jovem não se fixa”, esclarece.

Quando questionado sobre o equilíbrio entre tecnologia, sustentabilidade e tradição, o secretário-geral da CAP rejeita a convicção de que a tradição ainda possa determinar o setor. “Há uma coisa que já não se coaduna com a agricultura de hoje: a tradição. A agricultura é das atividades com mais margem para evoluir com tecnologia e ciência. O conhecimento sobre solos, culturas e recursos está a transformar tudo. Essa revolução é muito mais fácil com uma nova geração, porque altera procedimentos e mentalidades”, sublinha.