São jovens e influenciadores de tascas: “A tasca é um dos sítios mais democráticos que temos"

O Tascólogo e o Tasqueiro dedicam-se essencialmente a divulgar recomendações de tascas em Portugal, através das redes sociais. Os dois influenciadores, que chegam até a ser confundidos, movem-se por um só objetivo: o de promover a comida típica portuguesa e as pessoas que a sabem fazer.
 
Joana Amarante
Joana Amarante Jornalista
08 dez. 2025, 06:00

Luís Lavoura e Pedro Cardoso
Fotografia: Jovens influenciadores gastronómicos já fizeram colaborações

O conceito pode parecer estranho, mas já há quem lhes chame influenciadores de tascas. Luís Lavoura, o Tascólogo,de Albergaria-a-Velha, e Pedro Cardoso, o Tasqueiro, de Rio Tinto, são dois jovens que trabalham para o mesmo, ainda que de forma diferente: transmitir o melhor da gastronomia portuguesa através das redes sociais.

O Tasqueiro criou a página em 2023 e conta já com mais de 140 mil seguidores no Instagram. Nos vídeos que publica, garante que “é uma personagem” e por isso gosta de deixar as pessoas na dúvida, optando por não divulgar o seu emprego: “Será que é trolha, picheleiro, engenheiro civil ou informático? Pode ser muita coisa”, explica ao Conta Lá.

Já o Táscologo trabalha na área da informática. Começou a partilhar vídeos há cerca de dois anos e meio e alcança agora um total de 216 mil seguidores na mesma rede social. Ao contrário do colega, Luís Lavoura admite: “Não há aqui nenhuma personagem à volta, é mesmo a minha forma de ser”.

Entraram neste desafio pelo mesmo motivo. Frequentavam muito este tipo de estabelecimentos e decidiram começar a gravar conteúdos sobre os mesmos. Apesar de já existirem outras formas de divulgação, Pedro Cardoso sentiu que não era suficiente e ninguém o fazia sobre tascas.

“Supostamente eu fui a primeira pessoa a fazê-lo. E acho que foi no momento certo”, diz em entrevista ao Conta Lá. 

Os dois influenciadores, que chegam até a ser confundidos, movem-se por um só objetivo: o de promover a comida típica e as pessoas que a sabem fazer.

Luís Lavoura, o Tascólogo, decidiu iniciar mais tarde uma série de vídeos no Youtube, à qual deu o nome de "À grande e à portuguesa”, onde entra “na cozinha das pessoas, na casa de uma avó, para ela me ensinar a fazer o prato que melhor sabe”. Também já organizou um festival gastronómico, o Tascologia e prepara agora a próxima edição para 2026. Um dia sonha em ter o seu próprio espaço, mas para já avalia e partilha com todos o melhor dos já existentes. 

Já Pedro Cardoso, o Tasqueiro, diz com convicção que não se trata apenas de comida, mas sim da cultura, e por isso intitula-se como “campeão da cultura popular portuguesa e do bom comer”. Para o jovem, “se fores a um tasco e tiveres uma concertina lá a tocar as coisas vão estar ainda melhor”. Pedro Cardoso também já colheu frutos deste trabalho e prepara-se agora para lançar a segunda linha de roupa associada ao seu conteúdo. 

Tanto um como o outro dizem gostar de tascas pela comida tradicional portuguesa, que é mais em conta, e pelas pessoas com quem se cruzam e lhes contam histórias de vida. 

Ambos têm a mesma preocupação: “As tascas têm os dias contados”, admite Luís Lavoura. Pedro Cardoso concorda apesar de considerar que “a parte de comer bem e barato está na moda”.

“Estamos a cuidar aqui de um doente paliativo, porque ele vai morrer de qualquer das formas, mas podemos melhorar a vida deles e prolongar um bocado mais”, acrescenta Pedro Cardoso.

Mas o que caracteriza uma boa tasca? A resposta para ambos é a mesma: um balcão, proprietários ativos, o convívio com as pessoas locais e a comida boa e barata. Ambos garantem que nunca faltam os rissóis, as moelas, o presunto e claro, o vinho da casa, seja qual for a tasca onde entram.
E se tiver ovos pousados em sal? O Tascólogo diz que “é o máximo do Tascómetro”. Esta foi uma ferramenta criada por Luís Lavoura com o único objetivo de avaliar o “aspeto de tasca”. 

“Um restaurante pode ter uma comida excecional e não ser um tasco. E aí dou um quatro ou um cinco. Por outro lado, a comida pode não ser a melhor do mundo, mas se o ambiente for completamente tasqueiro, eu dou 10”, sublinha.

Os dois amigos garantem que ainda há muitas tascas para percorrer em Portugal e apesar de terem começado pelos favoritos e locais, hoje já recebem dezenas de convites para divulgarem outros espaços no país. 

“A tasca para mim é um dos sítios mais democráticos que temos em Portugal, porque tu podes ter toda a gente no mesmo sítio e o objetivo final é alimentar as pessoas”, refere Pedro Cardoso. Luís Lavoura acrescenta: “Trata-se de igual forma todas as pessoas que lá entram, seja um médico, seja um operário.” O Tasqueiro e o Tascólogo afirmam que “é esse ambiente muito familiar, esse espírito muito português” que caracteriza uma boa tasca.