Olivicultores pedem medidas para desafios do setor. Produção de azeite com quebras de 20%

A falta de precipitação nos quatro meses que antecederam a campanha da azeitona é apontada como o principal motivo para a quebra da produção de azeite. 
Ana Rita Cristovão
Ana Rita Cristovão Jornalista
26 nov. 2025, 10:00

Imagem de Fio de azeite a escorrer para o tanque no processo de produção de azeite num lagar
Fotografia: A falta de água levou a quebras de 20% na produção de azeite, que não deverá ultrapassar as 140 mil toneladas a nível nacional
A Olivum, Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal, representante de 53 mil hectares de olival em todo o país e responsável por 70% da produção nacional de azeite, estima, para esta campanha, quebras na produção que podem chegar aos 20%. Um cenário que se vai refletir no preço ao consumidor.

“O olival precisa de chuvas suaves e de descidas de temperatura para conseguir complementar o processo de formar o azeite (…) e nos meses cruciais para a formação do azeite encontrámos um cenário difícil, praticamente sem precipitação”, explica Susana Sassetti, diretora executiva da Olivum, ao Conta Lá.

Apesar de 2025 ser considerado um “ano de safra” pela entrada em produção de novos olivais e com o aumento da produção de azeitona face ao ano passado, o recuo da produção em termos de azeite era já projetada, devido às condições climáticas que se fizeram sentir nos quatro meses que antecederam a campanha, nomeadamente a falta de chuva e consequente seca que afetou as regiões olivícolas.

"Foram evidentes os efeitos das condições climáticas adversas e outros fenómenos extremos que têm acontecido e que podem voltar a afetar os rendimentos”, refere Susana Sassetti ao Conta Lá. 

A associação já antecipava quebras na produção na ordem dos 10%, mas o cenário agravou-se.

“Estimámos para os nossos associados 850 milhões de quilos de azeitona que originariam 115 mil toneladas de azeite e como representamos 70% da produção nacional prevíamos que, a nível nacional, a produção andaria à volta das 160 a 170 mil toneladas de azeite, mas acreditamos hoje que vai ser menos”, admite a responsável. 

Comparando com a campanha anterior de 2024/2025, considerada a segunda melhor de sempre com cerca de 180 mil toneladas de azeite produzidas a nível nacional, este ano a campanha 2025/2026 não passará das 140 mil toneladas em todo o país. Com a quebra da produção, é esperado impacto também no preço final do azeite ao consumidor. Apesar de se ter verificado uma descida do preço por litro de mais de dois euros entre junho do ano passado e março deste ano, as previsões para os próximos meses não são animadoras.

“Estamos dependentes do preço definido a nível mundial e é esse que nós assumimos. O preço é definido em Espanha, portanto se Espanha diz que estamos nos cinco euros, Portugal assume os preços que estão a ser estabelecidos em Espanha”, explica Susana Sassetti, acrescentando que também no país vizinho a produção de azeite se prevê mais baixa, tendo em conta o olival maioritariamente sequeiro, ou seja, “mais afetado pelas condições climáticas”.

Com a última década a ficar marcada por picos de produção seguidos de quebras acentuadas, Espanha sofreu em 2022/2023 uma das maiores quedas de produção, ficando-se pelas 700 mil toneladas de azeite. No último ano, conseguiu recuperar para 1 milhão e 380 mil toneladas, mas mesmo assim aquém da média do país.

Susana Sassetti acredita porém que não será o preço que fará os consumidores deixar de escolher o azeite ao invés de outros produtos substitutos. “Normalmente o que acontece quando há subidas de preço é o consumidor mudar de categoria, ou seja, em vez de escolher um azeite virgem extra pode escolher um azeite virgem, que tem um valor mais baixo", refere.


Associação pede medidas para um setor que enfrenta desafios

Mas se, por um lado, a possibilidade de aumento de preços assusta, por outro, a associação destaca que a qualidade do azeite português mantém-se e espera-se um reforço da posição portuguesa “entre os maiores produtores mundiais”.

“Portugal exporta uma grande quantidade de azeite. Muitas vezes, quando falta em Espanha, há azeite que vai a granel daqui para lá, azeite de uma ótima qualidade. (…) As exportações a nível nacional acabaram por colocar Portugal no terceiro maior exportador mundial em termos de azeite. Nestes últimos 20 anos, as exportações aumentaram imenso, 10 a 12 vezes o valor. O setor do azeite acaba por ter hoje uma contribuição muito positiva para o saldo da balança do agroalimentar, num valor à volta dos 500 milhões de euros”, explica Susana Sassetti.

Enquanto as exportações crescem, cá dentro a diretora executiva da maior associação nacional do setor olivícola admite que é preciso olhar com atenção para os desafios do setor, nomeadamente para a necessidade de soluções como aquela que se encontrou no início do século com a albufeira do Alqueva, que transformou esta região do distrito de Évora e permite hoje a disponibilização de água essencial para o regadio dos olivais. 

Diz ainda que o olival tradicional não pode ficar para trás e que é essencial reverter o estado de abandono em que se encontra.

“O olival tradicional está muito abandonado, a mão de obra acaba por ser muito cara ou inexistente, portanto esse é um desafio que eu acho que deveria ser revisto pelos nossos ministérios, não só ao nível da agricultura, mas também provavelmente ao nível do turismo porque isto também tem a ver com paisagem”, conclui.