Dois amigos e uma pequena horta: quatro toneladas de verduras por ano e dezenas de cabazes por mês

Em 2020, Tiago Carvalhal fundou a Horta D’Ria para produzir os seus próprios alimentos. Um ano depois, Francisco Macedo juntou-se ao amigo e hoje fornecem cabazes alimentares a dezenas de pessoas em Famalicão.
Joana Amarante
Joana Amarante Jornalista
05 dez. 2025, 06:00

Foi no pequeno terreno deixado pela avó que Tiago Carvalhal começou a plantar e a colher alimentos para si e para a sua família. Hoje, abre a porta da horta a quem quiser entrar, e com um sorriso rasgado, fala de todas as hortícolas que levemente saem do solo. Há cinco anos, trocou o escritório onde desenhava e criava joias pela terra húmida e, finalmente, sente-se preenchido.

“O trabalho de escritório não me satisfazia e rapidamente senti a necessidade de procurar algo. Costumo dizer que a natureza atraiu-me, puxou-me”, explica em entrevista ao Conta Lá.

A escassez de alguns produtos na pandemia deu-lhe o “empurrão para arriscar” e começar a produzir para consumo próprio. Os livros e os vídeos na internet foram os seus maiores aliados no processo. “Aprendi muito lá fora, com nomes conhecidos”, sublinha o fundador do projeto.

Tiago Carvalhal inspirou-se no conceito de Market Garden (pequena exploração agrícola focada no cultivo de frutas e vegetais para venda direta aos consumidores ou a mercados locais) e nos príncipios da agricultura regenerativa. Atualmente, dedica-se a tempo inteiro à Horta D'Ria, nome que surgiu em homenagem à avó Maria, conhecida na vizinhança por Ria. 

Um ano depois do início do projeto, em 2021, Francisco Macedo começou a dar uma mãozinha na horta, mas hoje a sua principal responsabilidade são os animais, a quem dedica apenas as manhãs. O resto do dia é passado na empresa onde repara equipamentos eletrónicos. “Temos de trabalhar sempre em conjunto com os animais”, sublinha. Por isso, todos os dias de manhã alimenta as galinhas e colhe os ovos que, ao fim de semana, embelezam a banca no mercado de Famalicão. 

Trabalhar “com a natureza e não contra ela”, num espaço pequeno, é o principal mote deste projeto, localizado a um quilómetro do centro de Famalicão. O solo trabalha com os “bichinhos” e as culturas plantadas entreajudam-se na troca de nutrientes. 

“Aqui abolimos pesticidas, herbicidas, tudo o que é morte”, revela Tiago Carvalhal. A fertilização das hortícolas é feita com a ajuda de minhocários ou 'warm farms'. As minhocas, alimentadas com restos biodegradáveis, trabalham o ano todo nas banheiras de terra preta. 
 

 


Nesta horta, as saladas são as rainhas. “O nosso forte são as verduras e as saladas”, explica Tiago Carvalhal.  A rúcula, o endro, os microverdes de trigo sarraceno, girassol e rabanetes picantes, as flores comestíveis como a flor de mel e o cravo, harmonizam os cabazes que preparam para vender. Atualmente, por ano, produzem cerca de quatro toneladas de verduras.

“Quatro toneladas de verduras leves impõe respeito e é gratificante”, revela Tiago Carvalhal.

Todos os sábados estão a vender produtos no Praça Mercado de Famalicão. Durante a semana, elaboram cabazes, que entregam a cerca de 20 famílias na zona. Além disso, as verduras da Horta D'Ria são vendidas na merceria local, a granel, e chegam ainda a seis restaurantes no distrito do Porto. O fundador da Horta D’Ria revela que o verdadeiro conceito de sustentabilidade é que tudo isto aconteça num raio máximo de 20 quilómetros.

“Este tipo de modelos pode ser facilmente replicável. Aí é que está o segredo da soberania alimentar local, diversas Hortas D’Ria pelo país a alimentar localmente”, refere.