Jovens agricultores são "mais qualificados", mas sofrem com financiamento

Em Portugal, apenas 4% dos agricultores são jovens, enquanto que a média europeia é 12%. Firmino Cordeiro, diretor da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal, afirma que os jovens agricultores portugueses são cada vez mais qualificados, mas persistem as dificuldades no financiamento e no acesso a terrenos.
Sofia Dias
Sofia Dias Jornalista
03 dez. 2025, 06:00

Casal de jovens agricultores num campo de cultivo
Fotografia: Jovens agricultores portugueses são cada vez mais qualificados

“O número de jovens agricultores em Portugal é baixo e a tendência é a diminuição." O alerta é de Firmino Cordeiro, diretor da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), que, em entrevista ao Conta Lá, explica que a média de idade dos agricultores no nosso país é significativamente superior à média europeia.

"Na União Europeia, a média de idade dos agricultores é de 57 anos e 12% são jovens. Já em Portugal, a média de idade dos agricultores é de 65 anos e apenas 4% são jovens", sublinha.

Por outro lado, Firmino Cordeiro destaca que da totalidade de jovens agricultores em Portugal “apenas 2,5% são mulheres”.

O diretor da AJAP explica que “os jovens agricultores são cada vez mais qualificados” e que Portugal tem feito um caminho de grande evolução no setor agrícola.

“Somos mais autossuficientes. Na produção de azeite e amêndoa, passámos de deficitários a exportadores, no vinho damos cartas a nível internacional, na cortiça continuamos a ser líderes, nas frutas e nos legumes subimos imenso. As nossas frutas são conceituadas nas principais feiras internacionais. Tudo isto se deve à resiliência dos agricultores.”

No entanto, as dificuldades que persistem no setor explicam o facto de o número de jovens agricultores portugueses ser inferior à média europeia e estar em declínio. Um dos grandes obstáculos, refere, está relacionado com o acesso ao financiamento.

“A banca continua com dificuldades em emprestar dinheiro aos agricultores. Não percebe que quando se investe numa plantação, os resultados não surgem a curto prazo. Há culturas que só no segundo ou terceiro ano começam a dar rentabilidade. Não há flexibilidade em relação ao alargamento do prazo do início das prestações. O Ministério da Agricultura deveria atuar e negociar com a banca este tipo de situações, através de um pacote específico para jovens agricultores”, refere Firmino Cordeiro.

A Comissão Europeia anunciou em outubro uma nova estratégia para duplicar até 2040 o número de jovens agricultores na UE, definindo um plano de ação para apoiar e atrair novas gerações para o setor agrícola. Bruxelas propôs a inclusão na Política Agrícola Comum (PAC) de um apoio de 300 mil euros e um reforço das linhas de crédito, através da intervenção do Banco Europeu de Investimento (BEI), para jovens agricultores iniciarem atividade. “Um número impactante” e até “simpático”, nas palavras do diretor da AJAP, mas que não é suficiente. O responsável critica a falta de “um acompanhamento mais minucioso por parte da União Europeia” e dos Estados-membros à atividade dos jovens agricultores.

Os obstáculos no acesso a terrenos para cultivo constituem outro problema. O diretor da AJAP lamenta a extinção da Bolsa de Terras, uma plataforma na qual se possibilitava a interação entre proprietários de terras disponíveis para venda ou para arrendamento e potenciais compradores e arrendatários, que contribuía para a diminuição do número de terrenos abandonados. “Mais tarde, surgiu o Banco de Terras”, um mecanismo que abrange terrenos públicos e terrenos sem dono conhecido, mas, “era fundamental que ambos os projetos coexistissem”.

“O Estado tem muitas terras e não é só o Ministério da Agricultura. O Estado devia ser o primeiro a dar o exemplo”, destaca.

Por outro lado, o despovoamento dos territórios e a escassez de serviços é também um fator que trava a implementação dos jovens em várias regiões do país: “Hoje, muitas aldeias não têm sequer um café aberto. Há localidades a definhar. Importa pensar em soluções para atrair pessoas para as zonas rurais. Os agricultores não se sentem bem lá sozinhos”.

De acordo com o diretor da AJAP, a maior parte dos jovens que enveredam pela agricultura fá-lo para dar continuidade a projetos familiares ou por escassez de oportunidades. “Concentram-se em zonas onde as oportunidades profissionais são escassas: Trás-os-Montes, região Norte e Alto Douro”. Locais onde predominam as “explorações de média dimensão, não ultrapassando os 20 hectares, com culturas de sequeiro”. São “explorações que não podem evoluir muito, já que estão dependentes das condições climáticas, que têm vindo a sofrer alterações”, acrescenta.

Para fixar habitantes nos territórios mais envelhecidos e despovoados, Firmino Cordeiro defende uma séria aposta no turismo dessas áreas rurais: “Bastava que entre 5 a 10% dos turistas que entram em Portugal visitassem essas zonas. Se os turistas começarem a visitar o interior, vão ficar apaixonados.”