Investigadora premiada com 10 milhões de euros para estudar terapias de longevidade saudável
“O envelhecimento é um dos problemas biomédicos, a meu ver, mais urgente nos tempos atuais”, sublinha, em entrevista ao Conta Lá.
Agora, integra um consórcio, que inclui dois investigadores do Instituto Curie, em França, selecionado entre 712 candidaturas para receber um financiamento europeu de 10 milhões de euros: “É muito prestigiante, porque os projetos do Conselho de Investigação Europeu (ERC) destinam-se a projetos que sejam de inovação científica e tecnológica, que sejam muito disruptivos e que são até considerados de alto risco”. A expectativa da cientista do I3s (Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto) é a de que este estudo permita abrir caminho a novas terapias de longevidade saudável.
“É possível que encontremos alvos terapêuticos que, obviamente, serão patenteados e que, se não formos nós, alguém com a 'expertise' necessária possa explorar para avançar nas terapias de longevidade saudável”, destaca.
Elsa Logarinho lidera um grupo de investigação desde 2015 que descobriu um gene de longevidade, necessário para manter a capacidade regenerativa das células da pele. Nesse sentido, foram criados modelos de ratinhos com uma cópia extra deste gene. O grupo concluiu que a longevidade destes animais aumentou cerca de 30%.
O projeto agora premiado pretende recorrer a uma abordagem fisiológica através dos testes em ratinhos e perceber até que ponto se consegue aumentar a imunidade nos modelos animais, mitigar as doenças do envelhecimento e até mesmo aumentar a longevidade saudável dos alvos de estudo.
"Há um colaborador que é um expert em imunologia, portanto, estuda o sistema imunitário. E depois temos um expert nos chamados centrómeros, que são os protagonistas deste projeto, que ninguém, obviamente, sabe o que é", sublinha.
A cientista do I3s explica que os centrómeros são sequências repetitivas do nosso genoma, onde são formados complexos moleculares responsáveis pela separação dos cromossomas durante a divisão celular.
Elsa Logarinho detalha que há evidência de que os mecanismos celulares que regulam o nosso desenvolvimento até à idade adulta começam a ficar disfuncionais, contribuindo para o envelhecimento em décadas posteriores. A vulnerabilidade do sistema imunitário acelera as doenças do envelhecimento.
Este tipo de bolsa oferece um montante elevado, que permite aceder às metodologias de ponta e à contratação de recursos humanos muito especializados e competitivos. Neste caso, as bolsas são em consórcio de dois a quatro cientistas. O único requisito necessário é que sejam investigadores de áreas muito distintas e com formação complementar, de forma a criar um projeto multidisciplinar, desenhado completamente em conjunto. As quatro tarefas, que vão ser desenvolvidas ao longo de seis anos, requerem conhecimento dos três laboratórios.
“Este dinheiro vai ser muito bem aplicado. Para mim, sobretudo, se calhar não tanto aos meus colaboradores, porque, felizmente, França tem um financiamento para a ciência muito significativo.”
A falta de investimento na ciência em Portugal
A investigadora admite que foi uma vitória receber a bolsa, uma vez que “em Portugal tem sido algo bastante difícil, a custo de muito trabalho, muita resiliência, muita dedicação”. Com este valor, conseguirá atrair recursos humanos muito especializados, incluindo investigadores de toda a Europa e poderá também utilizar metodologias mais precisas e, consequentemente, mais dispendiosas.
Elsa Logarinho lamenta ainda que o financiamento da Ciência em Portugal seja muito precário e diz que, durante anos, se dedicou a escrever candidaturas para obter financiamento necessário à investigação. “Tem havido um desinteresse cada vez mais acentuado na investigação fundamental, está muito esquecida. Costumo dizer que isto não é sorte, é uma conquista. E não tenho problema em dizê-lo. É bom que as pessoas tenham essa consciência.”