Sobreviventes de AVC: “O conforto de sentir que não se está sozinho"
António Conceição sofreu um AVC isquémico aos 41 anos. “Parecia que estava tudo mais ou menos controlado, quando nessa mesma noite, transformou-se num AVC hemorrágico”, relata o fundador e atual presidente da Associação Portugal AVC.
Os prognósticos não eram animadores. O mais provável era nunca mais conseguir comunicar e, se voltasse a andar, daria “três ou quatro passos com um andarilho”. Passados 17 anos, António garante ter superado os melhores prognósticos médicos. “Tenho algumas limitações, mas a minha vida hoje é perfeitamente normal”, acrescenta.
Há dois elementos que passam a estar muito presentes no quotidiano de quem sobrevive a um AVC: recuperação e reabilitação. Para o presidente da Portugal AVC, a recuperação é limitada pelos conhecimentos científico, enquanto a reabilitação prende-se com a “capacidade de cada um encontrar como continuar a ser útil à sociedade”. Os Grupo de Ajuda Mútua (GAM) podem ser essenciais na reabilitação de um sobrevivente de AVC.
A Associação, em conjunto com a Unidade de AVC da Unidade Local de Saúde do Alentejo Central (ULSAC), inaugurou em Évora o mais recente GAM para sobreviventes desta doença cardiovascular. É o 2.5º em Portugal e, no continente, apenas não há GAM nos distritos de Viana do Castelo, Bragança e Coimbra. “Há pontos de interesse, mas ainda não foi possível juntar as características necessárias”, justifica António Conceição.
Reúnem-se, pelo menos, uma vez por mês num espaço disponibilizado para o efeito e contam sempre com o apoio de um profissional de saúde ou até mesmo de um cuidador. “Os GAM são uma forma de chegar às pessoas no seu meio, na sua realidade” e, em primeiro lugar, de “combater a vontade frequente de isolamento” de quem sofreu um AVC. António Conceição acredita que “o conforto de sentir que não se está sozinho” é meio caminho andado para a reabilitação.
“Nos GAM há uma maior predisposição e capacidade de ouvir o outro, maior até do que na própria família, que por mais esforço que faça, não passou pela experiência”, sublinha.

Numa espécie de terapia em grupo, os profissionais de saúde responsáveis pelas sessões ajudam os sobreviventes a “encarar a vida pela positiva e a contornar as mais diversas sequelas”, explica o presidente da Associação. Os GAM podem ser frequentados por qualquer vítima ou familiar, são gratuitos e sem compromisso. Por mês, cerca de 500 pessoas participam nos encontros dos GAM de Norte a Sul do País, segundo a Portugal AVC.
“Eu costumo comparar os frequentadores aos passageiros de um comboio: há os de todos os dias, os ocasionais, há ainda os que só fizeram uma viagem e todos são bem-vindos”, diz António Conceição.
O AVC é a primeira causa de morte e, sobretudo, de incapacidade permanente em Portugal. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2020, morreram 11 mil pessoas vítimas desta doença no país.