Trabalhadores da Dielmar novamente com futuro incerto: "Não há oferta de emprego nesta área"
Há 18 anos a trabalhar na Dielmar, e toda a vida dedicada às confeções, Helena Breia, 53 anos, volta a ver o futuro nebuloso. A louricence é uma das 22 funcionárias da empresa de Alcains incluídas num despedimento coletivo, depois de ao longo do último ano várias trabalhadoras já terem saído por mútuo acordo.
“Preocupa-me o futuro, porque não há oferta de emprego nesta área e eu sempre trabalhei em confeções, há 33 anos. O [subsídio de] desemprego não dura toda a vida e eu o que quero é, assim que possa, voltar à atividade”, diz Helena Breia ao Conta Lá.
O grupo Valérius vai avançar, até ao final do ano, com um despedimento coletivo na Dielmar, confirmou ao Conta Lá a presidente do do Sindicato Têxtil da Beira Baixa (STBB), Marisa Tavares.
Segundo a dirigente sindical, o anúncio foi feito pela empresa do concelho de Castelo Branco há cerca de um mês, numa reunião onde foi dado como justificação um desequilíbrio financeiro provocado pela quebra nas encomendas.
Depois do processo de insolvência de há quatro anos, Helena Breia sente-se novamente a viver um pesadelo.
Desta vez, agravado, dado que se encontra de baixa e a aguardar um tratamento à coluna, para tentar evitar a cirurgia.
“Agora estou muito mais preocupada, porque tenho esta situação de saúde para resolver, não sei quanto tempo vai demorar e há as contas para pagar. Com ordenados tão baixos, não é fácil”, frisa a empregada fabril, a fazer contas à vida.
Os 33 anos a fazer gestos repetitivos deixaram marcas. Helena Breia debate-se, além do problema na coluna, com uma tendinite calcificada. A saúde e a idade assustam-na.
“Com 53 anos, dizem que sou velha para trabalhar, mas muito nova para pensar em reforma”, transmite, como que a pensar em voz alta, enquanto afirma sentir-se desprotegida, o inverso da perceção que tem da empresa que comprou a “antiga Dielmar” e recebeu apoios para a sua revitalização e conta agora com 122 trabalhadores.
“É uma situação muito idêntica à que vivi há 20 anos em outra empresa. Ficou insolvente, receberam e, algum tempo depois, meteram as pessoas na rua num despedimento coletivo”, censura.
Quanto às colegas que continuam ao serviço, espera que seja por muito tempo, mas avisa que “o futuro delas também não é muito certo”.
“Já há algum tempo que nos apercebíamos que havia alguns problemas junto da empresa, nomeadamente até de organização, para os quais já tínhamos chamado a atenção até a própria gerência”, informa a presidente do Sindicato Têxtil.
Segundo Marisa Tavares, depois de as trabalhadoras serem informadas e de a empresa transmitir que já tinha evitado este cenário por outras vias, como os acordos diretos que foram sendo feitos, a organização sindical procurou sensibilizar a administração para algumas situações mais delicadas, dando o exemplo das famílias monoparentais.
A dirigente sindical lembra que a marca abriu uma loja ‘outlet’ no Norte do país e espera que todo o trabalho para que a Dielmar se mantivesse não tenha sido “em vão”, apesar das “oscilações em termos de trabalho” que têm notado na empresa.
“Esperamos que haja uma inversão desta situação. Que a empresa tome medidas de organização para que consigam captar clientes e apostem na promoção da própria marca”, acrescentou Marisa Tavares.
O partido RIR (Reagir, Incluir, Reciclar) lembrou que a Dielmar “recebeu apoio estatal de emergência no valor de 320 mil euros para evitar a insolvência imediata e preservar cerca de 400 postos de trabalho” e acrescentou que o Grupo Valérius recebeu no ano passado “sete milhões de euros provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência para revitalizar a operação e sustentar a atividade produtiva”.
Em comunicado, exigiu que se apure qual o destino dos apoios públicos atribuídos.
A presidente do Sindicato Têxtil concorda que seja feito esse escrutínio. “Nós não somos contra os apoios que possam ser dados. Nós somos contra é a forma como eles às vezes são dados e não são depois fiscalizados. Deve ser verificado se cumpriram os pressupostos para os quais foram aprovados”, sustenta Marisa Tavares, em declarações ao Conta Lá.
O Conta Lá tentou contactar a Dielmar, sem sucesso.