Duarte Sanches trocou brinquedos por sementes e colheu o prémio de jovem agricultor
Em Valença do Minho, há um pequeno pedaço de terra que é um mundo inteiro aos olhos de Duarte Sanches, de 13 anos. É ali que, muitas vezes, se encontra, de joelhos na terra, a mexer nas raízes como quem mexe no futuro. A primeira estufa chegou primeiro que muitos brinquedos. O mesmo com o prémio “Jovem Agricultor 2035”, que recebeu das mãos do ministro da Agricultura.
A história começa de forma singela há cerca de três anos. Duarte não antecipava os mais de sete mil seguidores e as 73 mil interações que atualmente regista nas redes sociais.
Tudo começou com uma manga. “Eu gosto muito de manga. E um dia estava a comer uma e perguntei ao meu pai se podíamos ter uma árvore de mangas”, lembra o jovem, em entrevista ao Conta Lá.
Os pais aprovaram e compraram uma estufa e plantaram a mangueira. Depois veio a mini horta com a tia, os primeiros tomates, as couves e os pepinos. A certa altura havia mais plantas do que espaço.
Os pais confirmam essa relação profunda com a terra: “Ele desde pequenino andava sempre na terra, tinha sempre de ter alguma coisa nas mãos”, sublinha o pai, Ricardo Sanches. As sementes dos maracujás, dos melões, dos alhos esquecidos na despensa, tudo era motivo para plantar. Foi o filho quem “obrigou” o pai a construir a estufa “porque já não havia espaço para mais vasos”.
E no meio disto tudo, um verão “sem nada para fazer” trouxe a segunda grande semente desta história: a conta do TikTok, ‘Plantas do Duarte’.

Foto: Direitos Reservados
A horta fica a cem metros de casa e é para lá que Duarte vai, sempre que possível. “Quando estou lá sinto que não há mais nada à volta. Tenho paz”. O rapaz descreve-a quase como um refúgio: “Se passasse uma Terceira Guerra Mundial e eu estivesse lá, para mim estava igual”.
A conta na rede social mantém-se até hoje por meio de um acordo familiar. Os pais, que ao início não sabiam dos vídeos, apoiaram Duarte e deixaram-no continuar a mostrar as suas plantas nas redes sociais. “Tudo supervisionado por nós”, sublinhou o pai, Ricardo Sanches.
No TikTok cresceu rápido, impulsionado pela simpatia e naturalidade com que vai falando de sementes, estufas e hortas. Na escola, a popularidade também se espalhou. Alguns amigos já tinham hortas, outros começaram por influência dele.
Fala com os vizinhos como quem fala de jogos
Duarte fala com os vizinhos como os outros miúdos falam de jogos. Quer saber como se planta, como se rega, como se faz crescer. E os vizinhos, muitos deles com décadas de histórias agrícolas nas mãos, admiram-no e ajudam. Houve um com quem chegou a ir fazer trabalhos às 6:30 da manhã. “É engraçado vê-lo falar com senhores de 80 e tal anos sobre tomates e batatas”, revela Ricardo Sanches.

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O prémio “Jovem Agricultor 2035”, que lhe foi entregue na I Gala AJAP Portugal Winners pelas mãos do ministro da Agricultura, em novembro, chegou como consequência natural desse trajeto improvável. Primeiro, um telefonema a convidar para uma gravação; depois, o convite formal para ir a Lisboa receber a distinção.
Duarte recorda que, quando entrou na gala, a centenas de quilómetros de casa, o sentimento era de felicidade pelas pessoas à volta dele reconhecerem o seu trabalho e a conexão com a agricultura. Ainda assim, a reação dos colegas de turma parece ter sido o que mais o emocionou: “Estávamos a caminho e mandaram-me um vídeo a dizer ‘força Duarte, estamos contigo’. Fiquei emocionado. Claro que gostei e agradeci”.
Dos chuchus às ideias para o futuro
Nos vídeos, Duarte vai mostrando aos seguidores como se plantam certos legumes, dá dicas e mostra as suas colheitas. Com tantos vídeos, é difícil escolher um favorito. Mas o jovem recorda um que o emocionou: “o dos chuchus”.
“Foi o que mais me emocionou, mesmo até fora das câmaras”, explica o jovem ao Conta Lá, acrescentando que o motivo é familiar: “Os chuchus são de Coimbra, da minha tia que está sozinha. Quando fomos lá ela nem sabia e fizemos surpresa. Foi uma alegria”, recordou.
É este lado simples e real que faz com que tantos jovens e adultos o sigam, acredita o pai. Há quem lhe peça dicas. Há quem tenha começado a plantar por causa dele. Há até um grupo de brasileiros, os “Fazendeiros de Portugal”, com quem troca conselhos frequentemente.

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Entre as mil e uma tarefas diárias em que o jovem se vê envolvido, desde a escola aos escuteiros, ou da equipa de futebol à horta, os planos de se manter nas atividades agrícolas não saem de cena. Daqui a dez anos, o rapaz confessa que “gostaria de ter uma empresa, um campo, plantar e ensinar as pessoas como se faz”.
Já falou com os pais sobre a possibilidade de estudar engenharia agronómica. Mas confessa também que o gosto por plantar e colher os próprios legumes vai manter-se sempre porque o faz por gosto e não por obrigação. Caso contrário, tem sempre o “plano B e seguir pelo futebol”.