Retrosaria de Castelo Branco ganha nova vida aos 101 anos

É como entrar num paraíso feito de texturas, de cores e de estímulos à criatividade. Há nova vida e novos projetos a nascer no número 30 da Rua Sidónio Pais em Castelo Branco. Desde setembro que a velhinha Retrosaria Gama tem nova gerência.
Catarina Duarte Fonseca
Catarina Duarte Fonseca Editora-executiva
03 dez. 2025, 06:00

Urânia Brasil atrás do balcão da Retrosaria Gama
Fotografia: Urânia Brasil é o novo rosto da Retrosaria Gama
Urânia Brasil e Daniel Fernandes conheceram-se na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, mas depois dos estudos, em Design de Moda e Engenharia Civil, as oportunidades de trabalho obrigaram o jovem casal à gestão da distância. Foi em plena pandemia que Urânia decidiu deixar o Porto e fixar-se na terra natal de Daniel, no concelho de Castelo Branco. 

Nessa altura, o hobby que decidiu experimentar, o bordado, estava na moda e Urânia decidiu dar-lhe um toque mais contemporâneo. É assim que nasce o projeto Urânia Design, retratos bordados a partir de fotografias que a designer de moda reproduz no bastidor com um arco iris de cores.

A certa altura, o negócio ganhou dimensão depois de um artigo publicado numa revista dinamarquesa ter aberto as portas dos mercados da Escandinávia. Urânia precisava de linhas, muitas linhas para bordar. Era por isso cliente assídua da Retrosaria Gama, na altura propriedade do senhor José Luís e da Dona Arminda, que depois da morte do marido prometeu manter a Retrosaria a funcionar até aos 100 anos. “Este ano a loja fez 101 anos e a Dona Arminda disse-me que estava a pensar em trespassar o negócio” explica Urânia, que admite sempre ter tido o sonho de ter um negócio próprio. “Eu e o Daniel conversámos e considerámos que era uma oportunidade de juntar o negócio ao meu projeto, que já tinha alguma notoriedade”, confessa.

Deram um salto de fé e em agosto receberam as chaves da loja e com ela milhares e milhares de artigos. "Foi um trabalho enorme perceber o que aqui estava. Inventariar tudo, entender para que servia cada artigo, colocar preços, etc. Achávamos que conseguíamos fazer tudo num fim de semana", admite Urânia entre risos, “mas ao fim de uma semana de trabalho intenso percebemos que era impossível. E um mês depois, já com tudo praticamente organizado, abrimos as portas”.

Os clientes, alguns muito antigos, respiraram de alívio e receberam os novos retroseiros de braços abertos. Há quem entre só para ver o sortido de lãs ou os milhares de carrinhos de linhas mas há quem venha à procura de algo incrivelmente específico, “porque este negócio tem essa componente e nós tentamos sempre ajudar o cliente a encontrar o que precisa”.

De avental preto e metro ao pescoço, Urânia recebe os clientes atrás do balcão de vidro mas também a partir do teclado do computador. "O negócio online corre muito bem. Há muita gente até a vir à Retrosaria porque são nossos seguidores nas redes sociais. Nós documentámos o processo que levou à reabertura da loja e o retorno foi muito positivo".

As pessoas ficaram curiosas em relação à nova cara da Gama e dos novos projetos que temos para esta casa centenária”. Para além disso, o projeto Urânia Design continua a sua trajetória de sucesso. "Se me dedicasse 100% ao bordado talvez conseguisse fazer um retrato numa semana mas neste momento com o volume de trabalho aqui na retrosaria e todas as outras solicitações, o tempo de espera para novas encomendas varia entre os seis e os doze meses", confessa. De qualquer forma, junto a uma das montras da loja, a artista de 38 anos já tem um espaço exclusivo para o seu bordado. Assim tenha tempo de pegar no bastidor.
 

Incentivar as manualidades e revelar novos artistas também faz parte dos planos para o futuro próximo. “Reorganizámos o espaço já a pensar nos workshops que queremos desenvolver. Há pessoas que gostaríamos de convidar para partilharem a sua arte e ensinarem a quem quiser aprender”.

Outra ideia é poderem expôr os seus trabalhos, “até porque aqui a ideia é misturar o contemporâneo com propostas mais tradicionais usando a criatividade”, algo que se estende também à parte comercial “criámos kits-surpresa com desenhos para as pessoas experimentarem a tapeçaria. Às vezes os clientes têm dificuldade em escolher o desenho e assim recebem uma caixa com um desenho selecionado por nós e todo o material necessário para executar o trabalho, como linhas e agulhas. O mesmo em relação à caixa surpresa do ponto de cruz”.
 
Ideias novas numa casa centenária que continua a chamar-se Gama, em honra do fundador Martinho Gama, que curiosamente nasceu em Palvarinho… terra natal do novo proprietário Daniel.