Fim anunciado? Casa da Horta perde espaço e apela à comunidade para continuar projeto
A Casa da Horta, uma associação cultural e social do Porto, vai ter que sair da sede onde está instalada há 17 anos, após a venda do prédio a uma sociedade imobiliária que não quer renovar o contrato de arrendamento.
Depois de vários anos a promover atividades culturais gratuitas, desde concertos com artistas locais a ‘workshops’ artísticos e sessões de cinema, a Casa da Horta não esperava ter que algum dia equacionar sair da zona ribeirinha da cidade, onde criou raízes com a comunidade, partilhou esta quarta-feira com a Lusa Hernani Pessoa, um dos vários membros da associação.
“Há cerca de dois meses” foram notificados pelo novo proprietário do prédio de que não lhes seria renovado o contrato de arrendamento, tendo até ao dia 28 de fevereiro para abandonar o espaço.
“Primeiro foi um choque, porque a associação está habituada a estar ali (…). Não estávamos à espera de ter uma notificação assim, de despejo, de renúncia de contrato …”, relembrou Hernani.
Para além de ajudarem a bordar o tecido cultural da cidade, há quase uma década que a Casa da Horta tem recebido voluntários de todo o mundo, criado parcerias com várias instituições portuenses, organizado atividades desportivas para a comunidade local e ajudado um conjunto de pessoas em situação de sem-abrigo que pernoitam naquela área com uma refeição gratuita.
Os vários espaços comerciais que a associação tem procurado no Centro Histórico do Porto estão “fora” da sua capacidade financeira, garantiu Hernani Pessoa, que teme que esteja comprometida a continuidade do projeto.
“É uma situação complicada, porque é muito curto o tempo [dado para abandonar o imóvel]. E é complexo porque aqui na cidade, por causa da especulação imobiliária, os preços de arrendamento são altos, especialmente na área em que estamos inseridos”, a poucos metros do Palácio da Bolsa.
O imóvel foi comprado pela HorizonteGabarito Lda, uma sociedade com sede em Paços de Ferreira, que se dedica à compra e venda de bens imobiliários, arrendamento, construção e restauro de edifícios e exploração de apartamentos turísticos.
“Há dois ou três anos”, quando o prédio foi colocado à venda, o “valor exorbitante” que era pedido impediu a associação de conseguir exercer o direito de preferência sobre o imóvel de três andares, ficando entregue à vontade daquele que seria o novo senhorio, que acabou por não renovar o contrato com a justificação de que é necessário “a realização de obras estruturais no edifício”.
Na mesma situação estão ainda três famílias que residem naquele prédio e que serão obrigadas a deixar as suas casas, alertou ainda o associado.
Nas suas redes sociais, os responsáveis pela associação deixaram um apelo à comunidade: que lhes facultem “qualquer indicação que considerem útil” sobre novos espaços que permitam “continuar o trabalho cultural e social até aqui construído” onde possam continuar a acolher a “comunidade e os projetos que dela nascem”.