Especialistas alertam: a tecnologia na agricultura será uma questão de sobrevivência
Sensores inteligentes que medem a necessidade das plantas, drones que identificam a falta de irrigação ou sistemas que distinguem frutos maduros dos verdes já fazem parte do quotidiano de muitos agricultores, mas, num futuro próximo, a autonomia total das máquinas agrícolas poderá ser mesmo uma realidade. A agricultura está a ser profundamente transformada pela tecnologia e pela inteligência artificial e os especialistas alertam que a utilização destes recursos poderá mesmo ser uma questão de sobrevivência.
“Para quem não tiver, será mais difícil sobreviver a longo prazo”, sublinha João Lopes, gerente das empresas Forte e Sagar, do Grupo Auto-Industrial, em entrevista ao Conta Lá.
João Lopes afirma que cerca de um quinto dos profissionais das grandes produções agrícolas já utiliza máquinas inteligentes e que o rumo é irreversível.
Embora o país mantenha uma forte ligação à agricultura tradicional, as últimas décadas têm sido marcadas pelo investimento na inovação e nas ferramentas digitais que promovem sustentabilidade e eficiência. Os equipamentos já permitem monitorizar culturas em tempo real, identificar pragas, prever condições meteorológicas, ajustar a fertilização com precisão, reduzir desperdícios e gerir os recursos disponíveis.
Para João Lopes, esta revolução começou “há mais de vinte anos, com o aparecimento do GPS nos tratores”. Com as necessidades inerentes do setor, a precisão tornou-se indispensável na agricultura:
“Antigamente, se uma máquina fugisse 20 centímetros era ótimo. Hoje, cinco centímetros já são um problema. Essa precisão faz poupar recursos e melhora a qualidade do produto final. Hoje consegue-se fazer isso tudo em produções mais evoluídas, mas infelizmente não é o geral do nosso país”.
Mas esta transformação é acompanhada de alguns desafios, como o próprio Governo reconhece: a exigência de investimentos elevados, as dificuldades no acesso tecnológico nas zonas rurais e a necessidade de formação e adaptação aos novos meios. “Os agricultores precisam de saber gerir a quantidade de sementes, fertilizantes e água. Esta precisão faz poupar muito nos custos, mas exige investimento inicial em equipamentos e conhecimento técnico”, explica João Lopes.
Um estudo publicado este ano pela Comissão Europeia e conduzido pelo Fraunhofer IESE (instituição de pesquisa na área de engenharia de software e sistemas) refere as vantagens das ferramentas de Inteligência Artificial, mas aponta os obstáculos que persistem na digitalização da agricultura: “a falta de interoperabilidade entre sistemas, o acesso limitado a dados de qualidade e os custos de desenvolvimento”.
João Matamouros, gestor da Rovensa Next Portugal, afirma que a inteligência artificial é “uma ferramenta importante de apoio à decisão”, mas deve ser usada com prudência e sempre com os agricultores no centro da atividade.
“A tomada de decisão na agricultura continua, e bem, a depender das pessoas. A IA ajuda-nos a ser mais eficientes, mas um erro no campo paga-se com um ano inteiro de trabalho perdido. Não podemos carregar num botão e iniciar uma produção quando queremos.”
Uma opinião secundada por João Lopes: “Os agricultores serão sempre a parte mais importante disto tudo. Alguém tem de controlar as máquinas”, afirma.
E uma das principais fragilidades da agricultura na atualidade é precisamente a escassez de mão de obra. Para João Matamouros, o desafio passa por atrair novas gerações e qualificá-las para o setor.
“Precisamos de talento, de conhecimento e de jovens que vejam a agricultura como uma missão nobre. Temos, certamente, uma força muito grande de captação de talento e este país precisa de captar talento”, defende.
Com o conhecimento humano e a inovação tecnológica, a agricultura prepara-se para colher os frutos de uma realidade nova: uma colheita onde a sustentabilidade e a eficiência são as sementes do futuro.