Doença da língua azul: já morreram três vezes mais ovelhas do que no ano passado
O número de mortes de animais por causa da língua azul já é três vezes superior ao habitual para esta época do ano. A situação está a preocupar os agricultores: “Neste momento há uma mortalidade três vezes superior ao que seria esperado para esta época do ano”, revela o veterinário Miguel Madeira, da Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA), ao Conta Lá.
Nestas mortes incluem-se as “ovelhas jovens, os borregos, que morrem por falta de alimento, porque as mães estão doentes e não têm leite, ou porque ficam muito mais vulneráveis a outras doenças.” Ainda não se consegue apurar o número de ovelhas afetadas este ano “porque a situação ainda está a decorrer e há muitas ovelhas a adoecerem diariamente”.
As zonas mais afetadas pelo vírus são a zona Norte de Portugal, o Minho e Trás-os-Montes, a Serra da Estrela, também a zona de Coimbra e no território a sul de Beja, no Baixo Alentejo Sul, onde há uma incidência muito significativa.
Miguel Madeira revela que, “segundo informações da zona sul de Beja, os animais vacinados ultrapassam os 70%”, mas “não adquiriram imunidade natural por contato com o vírus em 2024 e, por alguma insuficiência do efeito da vacina, manifestam a doença”.

Em todo o país, cerca de um milhão de ovelhas foram vacinadas contra este vírus. A novidade é o aparecimento de novas variantes e a vacina atual “não confere a proteção que estávamos habituados”, afirma o veterinário. A mudança nas regras de vacinação, que passou a ser voluntária e fica agora ao critério do produtor, também pode ajudar a perceber este fenómeno.
“Neste momento estamos a vacinar por ilhas”, o que significa que “há efetivos que apesar de vacinados, estão constantemente sob pressão do vírus dos efetivos vizinhos, não-vacinados, por via do inseto que transmite a doença”, explica Miguel Madeira.
A inexistência de vacinação em campanha “pode implicar na insuficiência da vacina que estamos a verificar este ano, porque os animais, apesar de vacinados, estão sempre sob forte pressão do vírus.” Apesar desta vacina poder ser menos eficaz nesta variante do que nas anteriores, o veterinário defende que “a única arma que está ao nosso alcance é a vacinação, que é a mais eficiente”.
Os pedidos dos agricultores ao Governo são dois: o apoio financeiro à produção pelas perdas e a constituição de um Banco de Vacinas. No ano passado, “houve duas linhas de apoio, ambas com um valor de 48 euros por animal, ou morto ou a adquirir, e isso foi muito insuficiente”, uma vez que “uma ovelha de idade média (3 ou 4 anos) em produção vale sempre mais do que 250 euros”, afirma Miguel Madeira. Para além dos apoios mais próximos do valor real do animal, o veterinário da FAABA defende a necessidade da vacinação em campanha, em regine obrigatório.
Neste momento há ainda regras que dificultam o acesso ao fundo de quatro milhões de euros para a vacinação. “Se não gastar pelo menos 80% da vacina que encomendei, tenho de pagar o valor pedido”, por isso, a criação de um Banco de Vacinas permitiria aos produtores pecuários prevenirem a doença e “fazer o pedido atempadamente e sem as atuais restrições”, esclarece Miguel Madeira. A FAABA garante ainda estar “em conversações com a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária” para a criação deste Banco de Vacinas contra a Doença da Língua Azul.