Um Cardo entre o granito: mercearia celebra tradição em Sortelha
Projeto em Sortelha recupera o legado gastronómico da Beira Interior e reforça Aldeia Histórica como destino turístico. Os protagonistas desta história rumaram ao interior para criar um projeto de vida e de família.
02 dez. 2025, 08:00
Fotografia: Rodrigo Scarlati e Luísa Cariano são os proprietários da Cardo – Taberna e Mercearia
Caminhar pelas ruas empedradas da aldeia de Sortelha é como uma viagem a um tempo medieval, que resiste entre as fachadas de granito. Foi aqui, nesta Aldeia Histórica do concelho do Sabugal, que nasceu um projeto que combina autenticidade, sustentabilidade e paixão pelo território. A Cardo – Taberna e Mercearia abriu portas em junho do ano passado, transformando um antigo espaço local num ponto de encontro entre tradição e futuro.
Os protagonistas desta história são Luísa Cariano, licenciada em Gestão Hoteleira, e Rodrigo Scarlati, licenciado em Gestão, ambos de 39 anos, residentes na Covilhã desde 2013. O casal decidiu há mais de uma década rumar ao interior para construir um projeto de vida e de família. Em 2019 aceitaram o desafio lançado pela Associação Aldeias Históricas de Portugal: criar um conceito inovador de taberna e mercearia que unisse as 12 aldeias históricas no mesmo espírito de identidade.
“Desde cedo que tenho uma paixão por Sortelha”, partilha Luísa Cariano. “A minha avó materna é de uma aldeia próxima, e foi através das histórias e dos sabores que ela me transmitiu que aprendi a amar este território. Este projeto é, de certa forma, uma homenagem às nossas origens”.
Aldeia Histórica desde 2007, Sortelha conserva a traça medieval. Dentro das muralhas vivem apenas cinco pessoas em casas de primeira habitação. A paisagem, marcada pelo castelo e pelos grandes rochedos em granito, deu origem a lendas como “O beijo eterno”, uma história sobre a filha de um alcaide que, contra a vontade da mãe, se apaixonou por um príncipe mouro. Reza a lenda que o casal foi transformado em pedra, depois de um feitiço lançado quando se beijavam. O pelourinho manuelino e as antigas igrejas compõem um autêntico museu a céu aberto. Do bracejo, planta tradicional das terras secas elevado aqui a produto certificado, criam-se peças únicas de artesanato.
Através de capital próprio, Luísa Cariano e Rodrigo Scarlati constituíram a empresa e o nome não foi escolhido ao acaso pois o cardo é o elemento vegetal usado na produção tradicional do queijo da Beira Interior, símbolo da autenticidade desta região.
A mercearia dá resposta às necessidades tanto dos turistas que visitam a aldeia como às pessoas residentes. É o caso de Raul Clara. Tem 76 anos e admite que ter a Cardo em Sortelha “é uma mais-valia”.
“Quando preciso de algo mais urgente é aqui que recorro. Não tínhamos nenhuma mercearia já há alguns anos e quanto mais serviços houver mais pessoas se fixam no território”, acrescenta.
As sinergias criadas entre os habitantes e os proprietários são visíveis. “O senhor Raul traz sempre limões e alfaces da sua horta. O pão é feito por Lucinda Almeida, que também mora em Sortelha. É feito em forno de lenha em massa mãe, como antigamente. Faz ainda bolos, filhoses, a bica de azeite e o ‘Quinas’, um pastel de castanha típico do concelho do Sabugal”, conta Luísa Cariano, enquanto vai preparando as mesas para servir as cerca de 10 pessoas que têm mesa reservada para o almoço.
Na prateleiras do estabelecimento há azeite, mel, biscoitos, compotas, queijos, vinhos, frutas, legumes e feijão a granel. A louça de barro, as tábuas e as infusões foram elaboradas pela ASTA - Associação Sócio Terapêutica De Almeida, que apoia e integra pessoas com deficiência mental ou multideficiência. “Queríamos que o projeto tivesse um impacto social verdadeiro, e esta parceria é uma das formas de o conseguirmos”, explica Luísa Cariano.
“Trabalhamos com cerca de 34 produtores, sendo que 95% dos parceiros são da Beira Interior, garantindo a proximidade, a frescura e a genuinidade dos produtos”, sublinha.
Jorge Lourenço, presidente da Junta de Freguesia de Sortelha, acreditou no projeto desde o primeiro momento: “A Cardo traz um conjunto de vantagens à aldeia, para além de ser mais um espaço com restauração, tem um conceito diferente, pois as pessoas podem petiscar, fazer uma refeição e ainda adquirir uma recordação ou um produto da região. Os proprietários sabem enquadrar bem o contexto de cada prato e ainda caracterizam como eram as tabernas no passado”.
A Taberna da Cardo é o complemento natural da mercearia. A cozinha, sob a responsabilidade de Rodrigo Scarlati, funciona em horário contínuo, das 10 às 17 horas, permitindo aos visitantes provar os sabores da região ou levar as refeições para os alojamentos locais.
Os pratos seguem um receituário baseado na obra “Receitas que Contam Histórias – Gastronomia e Vinhos das Aldeias Históricas de Portugal”, valorizando as tradições culinárias e os produtos sazonais.
“O nosso objetivo é que quem nos visita possa provar o território tal como ele é, através de sabores genuínos e receitas ancestrais. Na parte da taberna criámos a carta através do que é genuíno e tradicional da aldeia, para as pessoas degustarem os produtos como eram feitos antigamente”, explica Rodrigo.
Os clientes são maioritariamente portugueses, mas 40% dos visitantes vêm de países como Estados Unidos, Espanha, Inglaterra, Alemanha, França e Austrália.
O sucesso em Sortelha foi a melhor prova do conceito que, agora, o casal vai replicar noutras aldeias históricas. As próximas paragens serão em Castelo Novo e Monsanto.
A Cardo vai também abrir-se ao mundo. Atualmente, a comunicação nas redes sociais é discreta. “Queremos que as pessoas venham pela experiência, não por uma fotografia”, diz Luísa. Ainda assim, o casal prepara o lançamento, no primeiro semestre de 2026, de uma loja online que permitirá adquirir produtos dos pequenos produtores locais.
Os protagonistas desta história são Luísa Cariano, licenciada em Gestão Hoteleira, e Rodrigo Scarlati, licenciado em Gestão, ambos de 39 anos, residentes na Covilhã desde 2013. O casal decidiu há mais de uma década rumar ao interior para construir um projeto de vida e de família. Em 2019 aceitaram o desafio lançado pela Associação Aldeias Históricas de Portugal: criar um conceito inovador de taberna e mercearia que unisse as 12 aldeias históricas no mesmo espírito de identidade.
“Desde cedo que tenho uma paixão por Sortelha”, partilha Luísa Cariano. “A minha avó materna é de uma aldeia próxima, e foi através das histórias e dos sabores que ela me transmitiu que aprendi a amar este território. Este projeto é, de certa forma, uma homenagem às nossas origens”.
Aldeia Histórica desde 2007, Sortelha conserva a traça medieval. Dentro das muralhas vivem apenas cinco pessoas em casas de primeira habitação. A paisagem, marcada pelo castelo e pelos grandes rochedos em granito, deu origem a lendas como “O beijo eterno”, uma história sobre a filha de um alcaide que, contra a vontade da mãe, se apaixonou por um príncipe mouro. Reza a lenda que o casal foi transformado em pedra, depois de um feitiço lançado quando se beijavam. O pelourinho manuelino e as antigas igrejas compõem um autêntico museu a céu aberto. Do bracejo, planta tradicional das terras secas elevado aqui a produto certificado, criam-se peças únicas de artesanato.
Através de capital próprio, Luísa Cariano e Rodrigo Scarlati constituíram a empresa e o nome não foi escolhido ao acaso pois o cardo é o elemento vegetal usado na produção tradicional do queijo da Beira Interior, símbolo da autenticidade desta região.
Um projeto da comunidade
A mercearia dá resposta às necessidades tanto dos turistas que visitam a aldeia como às pessoas residentes. É o caso de Raul Clara. Tem 76 anos e admite que ter a Cardo em Sortelha “é uma mais-valia”. “Quando preciso de algo mais urgente é aqui que recorro. Não tínhamos nenhuma mercearia já há alguns anos e quanto mais serviços houver mais pessoas se fixam no território”, acrescenta.
As sinergias criadas entre os habitantes e os proprietários são visíveis. “O senhor Raul traz sempre limões e alfaces da sua horta. O pão é feito por Lucinda Almeida, que também mora em Sortelha. É feito em forno de lenha em massa mãe, como antigamente. Faz ainda bolos, filhoses, a bica de azeite e o ‘Quinas’, um pastel de castanha típico do concelho do Sabugal”, conta Luísa Cariano, enquanto vai preparando as mesas para servir as cerca de 10 pessoas que têm mesa reservada para o almoço.
Na prateleiras do estabelecimento há azeite, mel, biscoitos, compotas, queijos, vinhos, frutas, legumes e feijão a granel. A louça de barro, as tábuas e as infusões foram elaboradas pela ASTA - Associação Sócio Terapêutica De Almeida, que apoia e integra pessoas com deficiência mental ou multideficiência. “Queríamos que o projeto tivesse um impacto social verdadeiro, e esta parceria é uma das formas de o conseguirmos”, explica Luísa Cariano.
“Trabalhamos com cerca de 34 produtores, sendo que 95% dos parceiros são da Beira Interior, garantindo a proximidade, a frescura e a genuinidade dos produtos”, sublinha.
Jorge Lourenço, presidente da Junta de Freguesia de Sortelha, acreditou no projeto desde o primeiro momento: “A Cardo traz um conjunto de vantagens à aldeia, para além de ser mais um espaço com restauração, tem um conceito diferente, pois as pessoas podem petiscar, fazer uma refeição e ainda adquirir uma recordação ou um produto da região. Os proprietários sabem enquadrar bem o contexto de cada prato e ainda caracterizam como eram as tabernas no passado”.
Tradição à mesa
A Taberna da Cardo é o complemento natural da mercearia. A cozinha, sob a responsabilidade de Rodrigo Scarlati, funciona em horário contínuo, das 10 às 17 horas, permitindo aos visitantes provar os sabores da região ou levar as refeições para os alojamentos locais.Os pratos seguem um receituário baseado na obra “Receitas que Contam Histórias – Gastronomia e Vinhos das Aldeias Históricas de Portugal”, valorizando as tradições culinárias e os produtos sazonais.
“O nosso objetivo é que quem nos visita possa provar o território tal como ele é, através de sabores genuínos e receitas ancestrais. Na parte da taberna criámos a carta através do que é genuíno e tradicional da aldeia, para as pessoas degustarem os produtos como eram feitos antigamente”, explica Rodrigo.
Os clientes são maioritariamente portugueses, mas 40% dos visitantes vêm de países como Estados Unidos, Espanha, Inglaterra, Alemanha, França e Austrália.
De Sortelha para outras paragens
O sucesso em Sortelha foi a melhor prova do conceito que, agora, o casal vai replicar noutras aldeias históricas. As próximas paragens serão em Castelo Novo e Monsanto.A Cardo vai também abrir-se ao mundo. Atualmente, a comunicação nas redes sociais é discreta. “Queremos que as pessoas venham pela experiência, não por uma fotografia”, diz Luísa. Ainda assim, o casal prepara o lançamento, no primeiro semestre de 2026, de uma loja online que permitirá adquirir produtos dos pequenos produtores locais.