Precisamos de “uma política fiscal agressiva para atrair jovens para o interior”
O fenómeno de litoralização do território agudizou-se de tal forma nas últimas décadas que criou “um país a duas velocidades”. O Conta Lá promoveu um debate sobre as políticas públicas que podem equilibrar o país em termos demográficos.
28 nov. 2025, 17:00
Fotografia: Os territórios de baixa densidade localizam-se no interior do país
Os números traçam o retrato do país: quase metade da população residente em Portugal concentra-se nas duas áreas metropolitanas. Na Área Metropolitana de Lisboa vivem cerca de 2,8 milhões de pessoas e a Área Metropolitana do Porto tem cerca de 1,7 milhões de habitantes. Num debate promovido pelo Conta Lá, no âmbito do ciclo "Pensar Portugal", o geógrafo e professor da Universidade Nova de Lisboa Gonçalo Antunes sublinha que o fenómeno de litoralização agudizou-se de tal forma nas últimas décadas que criou “um país a duas velocidades”.
“A economia e o emprego estão concentrados no litoral. O emprego qualificado está concentrado no litoral e os serviços públicos também, com os hospitais e as universidades de referência. Mesmo o poder político está concentrado no litoral, em Lisboa especificamente. Isto quer dizer que as problemáticas com que o poder político está preocupado são as problemáticas do litoral. E depois o investimento privado vai atrás disto tudo”, refere Gonçalo Antunes.
O geógrafo não tem dúvidas de que ainda é possível “equilibrar o país em termos demográficos”, mas, para isso acontecer, são necessárias políticas públicas a longo prazo. Gonçalo Antunes considera que Portugal deve “criar uma política fiscal agressiva para atrair jovens para o interior”.
“Portugal tem uma política fiscal agressiva para atrair nómadas digitais, mas eles acabam por ir para Lisboa ou para o Algarve. Podem existir medidas fiscais para atrair as famílias para o interior, como existem para os estrangeiros virem para aqui”, defende.
O geógrafo acrescenta que o Estado não pode desistir do interior: “É importante que os serviços públicos não desistam e não abandonem o interior. Não há serviços porque não há pessoas, mas não há pessoas onde não há serviços. E essa é uma decisão do Estado Central. Não se pode desistir desses territórios”.
Por outro lado, acrescenta que “melhorar a rede de transportes é um caminho” fundamental. “Apostar na rede ferroviária que, nas últimas décadas, entrou em declínio e desinvestimento em Portugal, é absolutamente essencial. Basta olharmos para o lado: Espanha tem TGV a cortar o país inteiro. Aqui temos uma linha ferroviária arcaica, que não chega a todo o país”, sublinha.
Com um litoral densamente povoado e agitado, há quem, nos últimos anos, tenha escolhido fazer o caminho inverso, rumando ao interior. É o caso de Edgar Ramos, fundador de uma empresa tecnológica, que se mudou de Lisboa para Proença-a-Nova, no distrito de Castelo Branco.
“Trabalhava em Lisboa e recebi um convite para uma nova empresa, a Outsystems. O convite era aliciante em termos de carreira. O vencimento era cerca de 20 a 30% a menos do que o que ganhava em Lisboa, mas comecei a perceber que em Proença-a-Nova o dinheiro esticou porque o custo de vida era inferior”, afirma.
Por outro lado, aponta "os tempos de acesso à saúde, à educação e a facilidade de nos ligarmos à comunidade à nossa volta” como vantagens em relação ao quotidiano nos grandes centros.
Edgar Ramos considera que, no interior do país “existem muitas oportunidades” e que a área da tecnologia tem sido pioneira no processo de descentralização, defendendo que a dinamização do território pode passar por uma aposta na área da tecnologia.
“Atrair um informático para o interior não é assim tão difícil. Hoje em dia, o salário de um engenheiro informático do interior será ainda inferior ao de um em Lisboa, mas depois há tudo resto e o interior ganha.”
“A economia e o emprego estão concentrados no litoral. O emprego qualificado está concentrado no litoral e os serviços públicos também, com os hospitais e as universidades de referência. Mesmo o poder político está concentrado no litoral, em Lisboa especificamente. Isto quer dizer que as problemáticas com que o poder político está preocupado são as problemáticas do litoral. E depois o investimento privado vai atrás disto tudo”, refere Gonçalo Antunes.
O geógrafo não tem dúvidas de que ainda é possível “equilibrar o país em termos demográficos”, mas, para isso acontecer, são necessárias políticas públicas a longo prazo. Gonçalo Antunes considera que Portugal deve “criar uma política fiscal agressiva para atrair jovens para o interior”.
“Portugal tem uma política fiscal agressiva para atrair nómadas digitais, mas eles acabam por ir para Lisboa ou para o Algarve. Podem existir medidas fiscais para atrair as famílias para o interior, como existem para os estrangeiros virem para aqui”, defende.
O geógrafo acrescenta que o Estado não pode desistir do interior: “É importante que os serviços públicos não desistam e não abandonem o interior. Não há serviços porque não há pessoas, mas não há pessoas onde não há serviços. E essa é uma decisão do Estado Central. Não se pode desistir desses territórios”.
Por outro lado, acrescenta que “melhorar a rede de transportes é um caminho” fundamental. “Apostar na rede ferroviária que, nas últimas décadas, entrou em declínio e desinvestimento em Portugal, é absolutamente essencial. Basta olharmos para o lado: Espanha tem TGV a cortar o país inteiro. Aqui temos uma linha ferroviária arcaica, que não chega a todo o país”, sublinha.
As vantagens de mudar para o interior
Com um litoral densamente povoado e agitado, há quem, nos últimos anos, tenha escolhido fazer o caminho inverso, rumando ao interior. É o caso de Edgar Ramos, fundador de uma empresa tecnológica, que se mudou de Lisboa para Proença-a-Nova, no distrito de Castelo Branco.
“Trabalhava em Lisboa e recebi um convite para uma nova empresa, a Outsystems. O convite era aliciante em termos de carreira. O vencimento era cerca de 20 a 30% a menos do que o que ganhava em Lisboa, mas comecei a perceber que em Proença-a-Nova o dinheiro esticou porque o custo de vida era inferior”, afirma.
Por outro lado, aponta "os tempos de acesso à saúde, à educação e a facilidade de nos ligarmos à comunidade à nossa volta” como vantagens em relação ao quotidiano nos grandes centros.
Edgar Ramos considera que, no interior do país “existem muitas oportunidades” e que a área da tecnologia tem sido pioneira no processo de descentralização, defendendo que a dinamização do território pode passar por uma aposta na área da tecnologia.
“Atrair um informático para o interior não é assim tão difícil. Hoje em dia, o salário de um engenheiro informático do interior será ainda inferior ao de um em Lisboa, mas depois há tudo resto e o interior ganha.”