Concurso de Pontes de Esparguete testa criatividade e ciência na Covilhã
Às interjeições de incentivo, de surpresa, de expetativa, seguem-se em coro um 'oh' seguido de palmas, assim que o material cede ao peso do chumbo no sistema que multiplica a força no aparelho onde se faz a medição. É assim há 24 anos na Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, a primeira instituição de ensino superior do país a promover um concurso de pontes de esparguete. Os alunos testam a resistência, põem à prova a imaginação e a estética.
O mais antigo Concurso de Pontes de Esparguete voltou a repetir-se no dia 21 de novembro, na Faculdade de Engenharias. O recorde de 167 quilogramas esteve longe de ser batido, mas o ambiente foi de entusiasmo para quem participou e assistiu.
Professor no Departamento de Engenharia Eletromecânica e um dos promotores do evento, Pedro Dinis, salienta ao Conta Lá a importância da “prática pedagógica criativa para testar teoria”.
“A nossa perspetiva é que os alunos consigam aplicar, em termos reais, aquilo que aprendem nas aulas. Conceitos de estática e de treliças. Neste caso, fazendo uma ponte em esparguete, porque é um material barato, e com cola térmica. Queremos que procurem soluções engenhosas”, explica o docente, envolvido na organização desde os primórdios.
Este ano estiveram a concurso 22 pontes e cinco na categoria de estética.
Da teoria à prática
O evento está vocacionado para os alunos de engenharia, que podem aqui aplicar os conhecimentos de várias disciplinas, mas construíram pontes também estudantes de Medicina, de Inteligência Artificial e Ciências de Dados ou de Mecânica Computacional.
A peça apresentada por Jorge Panagopoulos, aluno de doutoramento em Engenharia Aeronáutica, suportou 57 quilos e venceu a categoria de resistência. Um trabalho em colaboração com Pedro Oliveira, Rafael Domingos e João Antunes que, em conjunto, construíram para o concurso quatro pontes, uma para ser avaliada na componente estética. A cada uma, dedicaram cerca de oito horas na construção.
Jorge Panagopoulos adiantou ao Conta Lá que os conceitos aprendidos em cadeiras como mecânica aplicada, sólidos e estruturas são importantes. O que acha que fez a diferença para vencer foi “a estrutura em arco” e o esparguete com um orifício no interior, para dar mais resistência às extremidades, “com uma colagem circular”. Evitar que o esparguete apanhe humidade, a simetria e dar tempo suficiente à cola para secar e solidificar são aspetos a ter em atenção.
Recorde de 167 kg
O recorde de 167 quilos foi fixado por um aluno de Engenharia Eletromecânica em 2014 que participou várias vezes e foi subindo a fasquia. Pedro Dinis afirma que mais importante do que o grau de ensino dos estudantes, é a experiência adquirida em edições anteriores, que os leva a aperceber onde erraram, a testar, a corrigir e a “irem aprimorando, refinando a sua técnica”. “Alunos que participam no ano seguinte, têm resultados muito melhores, porque ganham experiência”, reforça o elemento da organização.
Jorge Panagopoulos, que concorreu pela quarta vez, é um desses exemplos. Dos 12 quilos que a ponte suportou na primeira experiência, passou para os 20 no ano seguinte, depois aumentou para 40 e conseguiu criar uma estrutura que este ano aguentou 57 quilogramas.
Observar o comportamento do que idealizaram é também uma aprendizagem. “Alguns dos alunos que aqui estiveram disseram que utilizaram ‘softwares’ de simulação, fizeram os cálculos e achavam que as pontes aguentariam 200 quilogramas. Na realidade, não aguentaram, porque dedicaram muito tempo à elaboração do projeto e pouco à construção, que tem de ser muito cuidada e vai ter impacto no que consegue suportar”, refere Pedro Dinis.
Vencedora de estética demorou 14 horas a construir
Miguel Caldeira, 23 anos, e Rihards Bunkovskis, de 20, ambos alunos de Engenharia Aeronáutica, ganharam na categoria de estética. Começaram na noite anterior, estiveram 14 horas seguidas a trabalhar no projeto e terminaram pouco antes do prazo a ponte considerada mais apelativa visualmente.
A maior dificuldade foi acertar com as colagens das peças. A prioridade criar uma base que aguentasse o peso mínimo exigido de 1 quilograma, além de ter um vão de 40 centímetros e o objeto não ultrapassar os 350 gramas. Daí, construíram com esparguete uma estrutura inspirada na Ponte 25 de Abril.
“Algumas coisas que nós imaginávamos, depois de estarem construídas não eram tão bonitas como na nossa cabeça. Então, houve coisas que tivemos de voltar a pôr”, contou Rihards.
Ficou a vontade de voltar a participar. “Para o ano estamos cá de volta”, antecipa Miguel Caldeira. “Definitivamente. Possivelmente, para as duas categorias. Vamos tentar aplicar agora os conhecimentos para a resistência”, acrescenta Rihards Bunkovskis.
“Todas as pontes representam aprendizagem”
Organizado pelo Departamento de Engenharia Eletromecânica, com a colaboração de Engenharia Civil e Arquitetura, o Concurso de Pontes de Esparguete Humberto Santos homenageia o seu impulsionador, entretanto falecido, e os responsáveis já pensam na edição comemorativa dos 25 anos, “com novidades”. Uma voltar a estimular a participação de alunos do ensino secundário e outra fazer a sua divulgação internacional. Quem sabe, bater o recorde.
A ponte mais resistente de sempre na UBI estava otimizada em termos de carga, suportada por todos os elementos da estrutura e com uma construção simples, descreve Pedro Dinis.
Na plateia, estava a reitora, Ana Paula Duarte, segundo a qual este é “um concurso emblemático, criativo, importante pela interação entre alunos e professores e por criar pontes entre a teoria e a prática”.
“Todas as pontes representam aprendizagem. São uma lição de que inovar exige pensar diferente, colaboração e não desistir. Que cada um pense já na próxima ponte”, transmitiu a reitora da UBI.

